Faz parte
Dois garotos entraram num ônibus escolhido às cegas, pois a chuva não cessava e eles estavam com as mochilas cheias de roupas e objetos de limpeza pessoal. Terminava assim mais um final de semana do mês de férias.
- E aí, brother. Esse serve?
- Não sei, cara. Vamo subir, qualquer coisa a gente desce mais ali na frente. Pelo menos até passar essa chuva.
O ônibus, como de costume, às seis da tarde (ou da noite?), estava mais apertado do que uma lata de sardinha. Felizmente no mesmo ponto em que eles subiram duas velhinhas desceram e eles não titubearam em sentar nos lugares reservados aos velhos, aleijados, grávidas, enfim. Eles realmente estavam muito cansados. O cobrador estranhou, mas nada falou.
Dez minutos se passaram e o ônibus parou num ponto onde subiram umas duas senhoras... Elas aparentavam ter mais de sessenta e cinco anos e os cabelos lembravam um algodão doce. No mesmo instante em que elas subiram, os dois se olharam e se comunicaram "telepaticamente".
O que estava no lado da janela virou bruscamente para a janela. E o que estava no corredor olhou firmemente, sem piscar, para o horizonte e manteve uma postura que qualquer bailarina que se preze sentiria inveja.
As senhoras olharam aquilo como uma barbárie.
- Imagine só, dois adolescentes no auge da saúde ocupando dois dos poucos lugares reservados a quem merece sentar! - Comentou uma delas.
Uma das senhoras foi direto ao encontro do que estava no corredor:
- Ei, garoto. Você não acha isso um abuso, não? Me ceda o lugar, agora!
Ainda olhando pro horizonte ele respondeu:
- Opa, perdão, me desculpe! - E foi se levantando, tropeçando (de propósito) e tateando tudo ao seu redor com seus olhos ainda vidrados no horizonte.
- Oh não, moço! Você é deficiente visual, me desculpe.. fique aonde está! Mas esse aí do lado, chame ele... eeei menino, você mesmo. Deixa eu sentar aí.
- Pois não, senhora. Só me dê uma ajudinha aqui... - Disse ele desvirando os ombros. E com os pés virados em quase cento e oitenta graus, os braços tortos e tremendo, foi se levantando todo desconjuntado.
- Ai, meu Deus... esse mundo tá complicado. Fique aí mesmo meu querido, deixa que eu desço e pego outro. - Disse ela com um semblante de extrema pena e desgosto.
Assim que a senhora desceu, o cobrador que já queria rir caiu na gargalhada e repassou o fato para o motorista que não achou nada engraçado e fez os dois descerem na outra parada:
- Porra, que sacanagem com a velhinha seus moleques. Desçam os dois já... vocês não tem mãe não, seus filhos-da-puta!!
- Temos sim, motora. Mas faz parte, né? - Disseram rindo em som quase único e foram andando para seus destinos, pois não tinham mais dinheiro algum.
3 comentários:
mnanooo se ta escrevendo tão bemm!!
sério bom de maisssss, ei já podemos começar a pensar em um livro de histórias semelhantes a essa que vc escreveu, mas nos retratando na épocas de canalhazzz emm que tal?
auHAU ABRASS MANOO
égua cara, o rogério lembrou um tio meu nesse comentário!
Adorei a foto e a crônica.
Muito bom!
=*
essa cronica até parece uma historia real.
ahahahahahahahahahahahahahahahah.
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